| M A I S  
                U M   M
                I T O ?
                
                   Por Luiz Amaral, PY1LL/PY4LC
                
                
                  
                
                  
                
                 Introdução 
                
                 Quando
                se está operando uma antena horizontal, normalmente de freqüência
                mais baixa em HF, é comum, por problemas locais, instalá-la em
                altura relativamente pequena (em relação ao comprimento de
                onda), ou seja, próximo à terra local.
                
                 A
                influência desta no comportamento da antena é bastante
                importante já que determina, entre outras coisas, a distribuição
                de campo eletromagnético no espaço e as eventuais perdas na própria
                terra. A presença de terra de baixa qualidade diminui a energia
                irradiada ‘para cima’ da antena.
                
                 Muitos
                radioamadores costumam defender a colocação de um refletor
                (fio com aproximadamente 5% mais longo que o irradiante) sob a
                antena para melhorar essa radiação para cima, aumentando a
                eficiência da mesma. O presente artigo pretende discutir essa
                questão de forma mais analítica.
                
                  
                
                 Refletores 
                
                 Seja
                uma antena yagi horizontal com apenas um elemento iradiante e um
                refletor. O aumento da diretividade devido a este último é
                conseguido através da interação dos campos eletromagnéticos
                dos dois elementos, tanto para frente como para trás da antena.
                O campo na região traseira da antena é diminuído e na região
                dianteira aumentado em sua intensidade.
                
                 O processo com
                que isso ocorre é exclusivamente efetuado por interação entre
                campos com relação de fase diferentes, isto é, na parte
                traseira, os campos se subtraem, tendendo a se anular, e na
                dianteira, eles se somam, tendendo a se reforçar (veja Figura
                1). É preciso notar, no entanto, que a diminuição na parte
                traseira NÃO se dá por algum tipo de dissipação, mas somente
                por interação dos campos com fases que tendem a se cancelar.
                Isto significa que, não havendo nenhuma dissipação, a energia
                se conserva e aquela que deixa de ir para a parte de trás, irá
                para outra parte do espaço, no caso, para a parte dianteira da
                antena. A diretividade de uma antena é conseguida através do
                remanejamento da energia irradiada, isto é, a maior potência
                numa direção é conseguida em detrimento da potência em outra
                direção.
                
                 
                
                
                   As Perdas No
                caso de uma antena horizontal de fio a baixa altura sobre uma
                terra de má qualidade, ocorrem perdas de diversas naturezas.
                
                 O
                campo de uma antena é constituído por uma parte irradiante e uma parte local.
                A primeira tem intensidade relativamente pequena, mas esta cai
                com a distância de forma lenta de modo a ir (matematicamente)
                ao infinito, ou seja, se constitui numa energia irradiada. A
                segunda parte é formada por campos de muito maior intensidade,
                mas que caem de forma muito rápida, de modo a praticamente não
                serem mais detetáveis a distâncias de alguns comprimentos de
                onda. É um campo reativo, ou seja, a antena entrega energia ao
                espaço que a devolve de volta à antena.
                
                 No
                caso de uma terra dissipativa bem próxima da antena, AMBAS as
                partes a envolvem e, portanto ambas contribuem para as perdas. O
                campo irradiado ‘para baixo’ gera correntes na terra que
                dissipa energia por efeito Joule. Mas o campo reativo mergulhado
                na terra também o faz, isto é, o espaço (terra) recebe
                energia da antena, mas não a devolve integralmente devido também
                a correntes geradas na terra. Toda essa energia é perdida
                irremediavelmente.
                
                  
                
                 O Refletor Artificial 
                
                 A
                princípio parece que, usando-se um fio refletor entre a terra e
                o elemento irradiante (a antena seria uma yagi de dois
                elementos, porém com seu plano na posição vertical), essas
                perdas poderiam ser diminuídas. Acontece que, nesse caso, o
                aumento da energia irradiada ‘para a frente’ (aqui, para
                cima) não ocorre da mesma forma que na yagi antes descrita
                porque a energia ‘para trás’ (aqui, para baixo) não é
                diminuída por efeito de fase, mas por dissipaçãoe assim ela não
                pode ser usada para reforçar a radiação para cima, como
                ocorre na yagi antes descrita.
                
                 Esta
                era uma desconfiança muito séria que eu tinha em relação a
                este processo de se melhorar a antena horizontal, mas mesmo
                assim resolvi testá-lo na prática.
                
                  
                
                 A Experiência 
                
                 Um
                dos problemas que mascara completamente os resultados de experiências
                envolvendo intensidades de sinal em HF é a propagação. Suas
                variações lentas e as mais rápidas (QSB) fazem com que
                medidas feitas não somente em dias ou horas diferentes, mas após
                minutos e muitas vezes até segundos diferentes, tenham seus
                resultados sem a necessária confiabilidade que levem a conclusões
                realmente válidas. É necessário, então, que as comutações
                efetuadas sejam feitas rapidamente, a não ser que a diferença
                de sinal entre as diversas situações seja extremanete grande,
                o que não é aqui o caso.
                
                 Para
                se verificar a modificação eventualmente introduzida por um
                tal refletor artificial é necessário que se ponha e retire o
                refletor de forma rápida e instantânea. Sair do shack, ir até
                a antena, retirar ou colocar o refletor tomaria um tempo
                incompatível com a necessária rapidez de tal comutação.
                
                 Resolvi
                usar um processo de controle remoto para a experiência.
                
                 A
                antena era uma ½ onda para 160m, ou seja, onda completa para
                80m, alimentada pela ponta em alta impedância (antena Zepp). Em
                160m, um refletor sob a antena teria máxima corrente no centro,
                mas, em 80m, no centro a corrente teria justamente um nulo.
                Dessa forma, abrir uma chave no centro do refletor em 160m, o
                ‘retiraria’ do circuito, pois impediria a passagem da
                corrente (ficariam apenas dois fios independentes e de 1/4 de
                onda, um péssimo refletor), mas em 80m tal chave não teria
                nenhuma ação.
                
                 Resolvi
                pôr a tal chave a mais ou menos 1/3 do comprimento total do
                refletor (5% maior que o elemento irradiante) 
                onde em ambas as faixas a corrente seria suficientemente
                alta para garantir o ‘desligamento’ do refletor ao se abrir
                a chave. Assim, o refletor foi dividido em duas partes por meio
                de um isolador de PVC e a chave simplesmente punha o mesmo em
                curto-circuito.
                
                 Para
                evitar a presença de fios extras na região da antena (necessários
                se, por exemplo, a tal chave fosse um relé), o controle foi
                feito mecânicamente, através de uma corda de nylon. A chave
                nada mais era que uma pequena tábua (12cm x 6cm) pendurada no
                isolador (a 1/3 do comprimento do refletor) e que ficava na
                vertical por seu próprio peso e a corda de nylon a levava à
                posição horizontal ao ser puxada. Sobre a tábua foi posta uma
                ampola de vidro com mercúrio, das antigamente usadas em bóias
                de automático de bombas d’água. Na posição horizontal a
                ampola fechava o circuito e na vertical o abria.
                
                 Com
                este método foi possível se ‘pôr’ e ‘retirar’ o
                refletor várias vezes e de forma muito rápida, impedindo
                interferências da propagação no sinal.
                
                  
                
                 Resultados e Conclusão 
                
                 Um
                dos efeitos mais sensíveis da colocação de um refletor próximo
                a um elemento irradiante de uma antena, é a alteração (muitas
                vezes drástica) da impedância deste.
                
                 Mesmo
                sem estar em QSO, nas duas faixas observei a eventual alteração
                de impedância pela leitura da ROE. NADA foi notado, nem mesmo
                uma mínima alteração em nenhuma das duas faixas de operação.
                Após, em QSO com colegas de pequenas distâncias de meu QTH
                (colegas de SP e RJ com meu QTH em MG), NENHUMA alteração de
                sinal foi notada ao se ligar/desligar o refletor.
                
                 Este
                resultado está de acordo com o meu raciocínio explicado
                anteriormente e também com informações dadas no ARRL ANTENNA
                BOOK, na seção sobre a terra, onde é dito que a presença de
                uma grade (não apenas um fio!) sob a antena, bem maior que esta
                e sobre a terra, pode ser usada para se simular bastante bem a
                ‘antena sobre uma terra ideal’ apenas no que diz respeito à
                impedância de entrada, mas NÃO em relação ao diagrama
                vertical de campo (ou seja, a irradiação para cima).
                
                 Concluo,
                assim, que a colocação de tal refletor artificial sob a antena
                produz resultados não mensuráveis e, portanto, se constitui,
                na verdade, em mais um mito entre tantos que existem propalados
                nos meios radioamadorísticos.
                
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