Cinco longos anos se passaram, mas as lembranças permanecem vivas em nossas mentes, e a dor que as lembranças trazem, dão um aperto muito forte em nossos corações. Hoje, exatamente hoje, 11 de janeiro de 2016, ao cair da tarde, começa a chover, como se o tempo quisesse nos lembrar, embora seja impossível esquecer, daquele janeiro de 2011. Ainda ecoam em minha mente o barulho ensurdecedor da chuva caindo sobre o telhado, dos trovões e da claridade dos raios, que em uma sequência absurdamente rápida, iluminavam sem apagar, as montanhas ao meu redor, como se holofotes tivessem sido acesos para mostrar a fúria e a força da natureza. Montanhas que se transformaram em cachoeiras, cujas águas encheram os rios e os fizeram transbordar.
Naquela noite, do dia 11 para o dia 12 de janeiro de 2011, muitos sonhos foram bruscamente interrompidos, famílias inteiras desapareceram, vizinhos, amigos, conhecidos, filhos, irmãos, pais, mães, esperança....
Tudo se perdia, nada se esperava, ninguém conseguia entender o que estava acontecendo, o medo invadiu os corações, e não se tinha certeza da própria sobrevivência. A madrugada avançava, e a situação piorava cada vez mais. A chuva não diminuia, os raios pareciam bolas de fogo, tão baixas estavam as nuvens, que deixaram marcas nas montanhas atingidas, onde nem o capim conseguiu nascer para cobrir as cicatrizes desta tragédia.
O dia clareou, mas não amanheceu para a população Teresopolitana, que ainda vive as agruras daqueles sem casa, sem família, sem esperança. A tragédia não acabou, uma sucessão de erros, descasos, incompetência, sinismo, vão fazendo com que vivenciemos a tragédia, da tragédia, da tragédia, como num moto contínuo, aumentando o sofrimento daqueles que não deveriam, pois sequer possuem espaço para mais dor, para mais agonia.
Foi uma luta muito grande para tentar sair do caos, não teríamos conseguido sem a solidariedade do povo brasileiro, sem a dedicação daqueles que sobreviveram e se lançaram como guerreiros incansáveis nos trabalhos humanitarios, de outros tantos que vieram de todos os cantos do nosso país para ajudar, dos herois anônimos, dos radioamadores, da Defesa Civil, da Cruz Vermelha de Teresópolis, da força que surgiu não sei de onde, para criar uma corrente do bem e resgatar aqueles que não haviam conseguido. O maior exemplo de solidariedade, superação, coragem, doação, de humanidade que vivenciei na minha vida.
Não dá para esquecer, não enquanto viver, enquanto respirar e puder olhar para estas montanhas deixadas pelas águas e marcadas pelos raios, para as pessoas que passam por mim, pelas pessoas que já passaram por nós num caminho sem volta. Muitas experiências foram vividas, muitas descobertas, irmãos que a vida trouxe com a enxurrada, de amizades sinceras que surgiram e ficarão para a eternidade.
Que Deus nos abençôe, que nos permita dias melhores, que faça justiça para os necessitados e proteja a nossa cidade das tragédias dos homens, da inconsequência e do descaso.
Nossa solidariedade, nosso desejo profundo e sincero de muita luz, de paz, de respeito, dignidade, e da tão sonhada prosperidade.